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terça-feira, 21 de julho de 2020

Bares e casas noturnas de Blumenau trabalham até de portas fechadas para o show continuar

Pub de Blumenau cumpre medidas de prevenção ao coronavírus
The Basement entrega pedidos, serve comida e bebida no local, vende vouchers e fez live.
Outros bares e casas noturnas estão fechados para evitar aglomerações. (Divulgação)
Por: Kunimund Krönke Junior

Comentários nas mídias sociais, fotos de visitas de amigos e parentes, notícias de festas clandestinas e de aumento nas ocorrências de perturbação de sossego mostram que muitas pessoas sentem falta de sair para se divertir. Enquanto bares e casas noturnas que aparecem na nossa agenda semanal estão fechados, os responsáveis falam sobre o que têm feito desde que a pandemia chegou a Blumenau.

No dia 17 de março, o governo de Santa Catarina informou que pessoas que não tinham viajado para o exterior também estavam transmitindo o novo coronavírus. Foram decretadas várias medidas para diminuir a circulação de pessoas e evitar a contaminação, entre elas o fechamento de casas noturnas e teatros e a suspensão de eventos, shows e “espetáculos que acarretam reunião de público”. Cerca de um mês depois, bares puderam reabrir com obrigação de manter ventilação natural, aumentar a limpeza dos ambientes, colocar álcool 70% para desinfetar as mãos, impedir a entrada de clientes sem máscara, fazê-los ficar, no mínimo, a 1,5 metro um do outro, entre outras. 

Assim, Container, The Basement e Verdant voltaram para servir bebidas. Sem festas. O Cafundó atende aos skatistas que andam na pista ao lado da área de eventos, que continua fechada. De acordo com Cléber Lima, proprietário do Don Pub, a diferença do alvará das casas noturnas para os bares é a autorização para ter música ao vivo e o horário de funcionamento.

Apesar de poderem, Ahoy e Don preferiram manter as portas fechadas. Para os donos, a falta de bandas não atrairia público suficiente para cobrir os custos. Cléber entende que até uma futura liberação com capacidade reduzida não valeria a pena. “Como a gente tá fechado, conseguimos ‘pausar’ [a prestação de] vários serviços, inclusive negociar o aluguel. A partir do momento que tu trabalha, tem que retomar todos os custos.” Ele também se preocupa com aglomerações. “30% da lotação onde cabem 100 pessoas, como era o Don, já é muita gente para um lugar fechado. Não seria saudável.” Cléber lembra que é difícil fazer as pessoas usarem máscara e respeitarem a distância depois de beberem.

Crédito enche copos e cofres

Para ajudar bares e casas noturnas a sobreviverem de portas fechadas, os clientes podem comprar vouchers e trocá-los no futuro por ingressos e bebida. Através do “Brinde do Bem", o Ahoy recebeu da Heineken o dobro do arrecadado pela campanha até maio. A venda continua, mas a cervejaria repassa ao bar só o valor dos créditos.

“Ajudou bastante. Praticamente foi o único faturamento que a gente teve nesses últimos meses, tirando a venda de estoque para as bebidas não vencerem. A grana arrecadada durante a última live (dia 12 de julho) foi para as bandas. A gente tá fazendo várias ações para manter a marca ativa, mas não geram faturamento pra gente”, conta Leo Biz, um dos “capitães” do “convés”.

O Don Pub participa do “Ajude Um Restaurante”, em que os clientes podem comprar um cupom de R$ 100 pagando metade do preço. Stella Artois, Nestlé e outras empresas parceiras completam a diferença repassada aos estabelecimentos. Bares e casas noturnas entraram na segunda fase. “Não tinha a mesma comoção, mas foi bacana. A gente também deu a opção para retirar as bebidas agora. Não precisa esperar reabrir. Depois de 120 dias, a incerteza da reabertura faz as pessoas aderirem menos. Não sabem quando vão poder usar. A gente teve uma adesão bem legal de clientes. A maioria mandava [mensagem] inbox para avisar que compraram. Dá pra ver que há uma proximidade dos clientes e das casas”, conta o dono, Cléber Lima.

O The Basement começou sua própria campanha em abril. Clientes podem comprar vouchers de R$ 50. A plataforma continua funcionando mesmo depois de o pub reabrir para atender pedidos de entrega e servir bebida e comida no local.

Lives demais

Equipe de produção transmitindo o show da banda Lola durante a live do Ahoy em comemoração
ao Dia Mundial do Rock em 12 de julho. (Divulgação)
Enquanto cantores, bandas e DJs famosos fazem lives e aproveitam sua popularidade para ganhar dinheiro com propaganda e arrecadar doações, Ahoy, Cafundó, Cervejaria Container, Don Pub e The Basement usam as transmissões para manter o relacionamento com o público.

Daniel Reginatto, da Cervejaria Container, lembra que “a comunicação diária é online” por causa da necessidade de distanciamento social. Ele sente que os espectadores estão cansados e, como outros proprietários de bares e casas noturnas de Blumenau, Daniel vai evitar fazer lives. “O pessoal curtiu, tivemos um feedback positivo, mas como rotina e solução de receita, não é o caso. Não temos mais nada planejado”, afirma o proprietário da Container. “É possível que a gente faça outras lives, desde que tenha um bom motivo ou conteúdo pra passar”, diz Kaiser Novelli, um dos sócios do Ahoy. “Já tem muita coisa na Internet. Da mesma maneira que a gente faz os nossos trabalhos em situações normais, a gente pensa as lives. Não adianta encher lingüiça.”, explica Leo Biz, o outro comandante do “convés”.

A live do Dia Mundial do Rock arrecadou mais do que o esperado e o dinheiro pagou o cachê das bandas e da equipe de produção. “Foi satisfatório pra caramba. Todo mundo saiu feliz. A galera veio na parceria porque tava com saudade de trabalhar”, conta Kaiser. Antes, ele e Biz conversaram com os seguidores do Instagram no dia em que estava marcado o evento de 10 anos do bar. “Todo mundo tava muito eufórico, com saudades. Tinha muita coisa programada. Foi um papo muito bacana e a gente pôde ficar próximo da galera”, lembra Kaiser. Além dessas, a comemoração de 3 anos da festa Disco Pirata foi em uma sala no Zoom, limitada a cadastrados por causa da infraestrutura do servidor. “Ainda não é o momento pra gente cobrar ingresso”, avalia Biz.

Depois de duas lives, o Cafundó recebeu uma cobrança do Escritório Central e Distribuição (ECAD). Pensando nos meses fechados, Daniele Staats, proprietária do bar, ficou chateada, mas ainda planeja transmitir outros shows pela Internet por causa do interesse dos artistas. “A gente tinha uma live de uma banda de rock marcada para esse final de semana, mas resolvemos não fazer nada pelos próximos dias por causa do agravamento da pandemia em Blumenau e da repercussão nas mídias sociais”, explicou. “Por mim, faria uma live por dia.” Para Daniele, foi uma experiência estranha porque as pessoas não estavam lá se divertindo juntas. “O Cafundó sempre foi muito família. Sempre temos amigos próximos aqui.” Ao mesmo tempo, ela brinca que se sentiu “a rainha da cocada” por ter tido um show exclusivo.

“Foi super legal fazer alguma coisa nesse período. As lives com artistas locais são mais direcionadas para quem segue eles e a casa. Não atraem uma grande número de espectadores, mas quem tá ali interage o tempo inteiro. É bem divertido”, disse Cléber Lima, do Don Pub. Ele concorda com os colegas do Ahoy e da Container que as transmissões não sejam banalizadas. “Tem que pensar mais numa data especial ou alguma coisa de diferente, talvez bate-papo.

Don sem pressa para arrumar a casa nova

Ahoy, Baader, Box e Cafundó aproveitam a suspensão dos eventos por tempo indeterminado para fazer reformas. O Don Pub também, mas as obras são em outro endereço. O bar já foi para a Rua Padre Jacobs, 174, na mesma galeria onde fica o Downtown. Cléber Lima, proprietário das duas casas noturnas, cita várias vantagens para a mudança, sem que o Don perca a identificação com seu público. (Assista ao vídeo.) O trabalho começou semana passada, sem prazo para terminar. “Se tiver uma aceleração da vacina, a gente enfia o pé no acelerador, vai executar o que estiver faltando e vai abrir. Não vai ficar fechado no momento que estiver seguro e possível abrir.”


Proprietário do Don Pub fala sobre o novo local.

Bares e casas noturnas também desenvolvem ideias e realizam projetos. “Não adianta reclamar. Todos estão sendo afetados pela pandemia e os artistas estão criando. Vai ser uma explosão de novidades”, prevê Daniele Staats, do Cafundó.

Sob nova direção

Talvez a maior surpresa para o público da cena rock de Blumenau seja a venda da Mansão Wayne. “Uma nova oportunidade surgiu pra mim. Quero viabilizar isso recuperando o investimento que eu fiz aqui”, revelou Ivan Luchini, dono do estúdio. Apesar da diminuição de ensaios, gravações e da suspensão de eventos, Ivan tem conseguido se manter durante a pandemia. Quando a entrevista foi gravada, faltavam detalhes para fechar o negócio.

Segundo Ivan, o comprador tem experiência com eventos e teve prioridade porque se mostrou disposto a continuar o trabalho que estava sendo feito. Com o novo proprietário, a Mansão pode conseguir o alvará para vender bebidas. “Aqui é um ponto favorável pra isso. A galera já tinha comentado comigo sobre vir durante a semana tomar cerveja, consegui fornecedor, mas meus planos foram frustrados pela pandemia.”


O atual dono do estúdio revela o motivo da sua decisão e o que público pode esperar do comprador.

Medidas ao redor do mundo

Depois de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e enfermarias dos hospitais de Blumenau ficarem lotadas de pacientes contaminados pelo coronavírus, a Prefeitura anunciou nesta segunda (20) novas medidas de combate à pandemia. Uma delas é que bares podem funcionar apenas com entregas durante os próximos sete dias, contados a partir desta terça (21). A Oktoberfest foi adiada para novembro, mas depende de confirmação, marcada para agosto. Se a festa acontecer mesmo este ano, os entrevistados entendem que não existiria motivo para manter a suspensão de eventos por causa da aglomeração.

No Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson anunciou na sexta (17) que shows poderão acontecer em locais fechados na Inglaterra a partir de 1º de agosto. Johnson não disse quais medidas de proteção contra o coronavírus serão obrigatórias. As mais comuns que bares e casas noturnas têm seguido ao redor do mundo são uso de máscara obrigatório, medição de temperatura na entrada e limitação da capacidade, incluindo marcas no chão para indicar a distância entre pessoas ou grupos de amigos. O primeiro-ministro também informou que a aprovação desse plano depende de testes em julho. Não há previsão para outras partes do Reino Unido. (Com Nexo Jornal e Tenho Mais Discos Que Amigos!)

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